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Por que resgatar o comer simples é tão urgente?

Para continuar o mês da Alimentação Intuitiva na Nutri Jr. essa semana contamos com a participação da Nutricionista Lydiane Bragunci, também colaboradora no blog Sentidos do Comer. No texto de hoje, ela nos convida a tornar nossa alimentação um momento mais prazeroso, e livre de todas as fórmulas e exigências desnecessárias que imperam nos dias atuais.  Um comer simples pode ser muito mais eficiente, e tornar o dia-a-dia muito mais leve!


Por que resgatar o comer simples é tão urgente?

Tão natural e instintivo quanto dormir, respirar, transpirar, beber água é o ato de se alimentar. A natureza é de uma perfeição extrema! Imagine se você, conscientemente, precisasse controlar a quantidade de ar que coloca para dentro e para fora dos pulmões. Só de pensar nisso, vem uma leve dispneia, não é mesmo? Imagine ainda se você tivesse que controlar quanto de urina seus rins produzem. Se houvesse uma regra absoluta de que as pessoas, para serem consideradas saudáveis, precisassem excretar 500mL de líquidos diariamente. Pense no quanto as pessoas se tornariam neuróticas e preocupadas com isso. Pode parecer absurda a comparação, mas é exatamente assim que estamos tratando a fome. E é assim que estamos encarando a alimentação na atualidade. Com regras rígidas, fórmulas fechadas, buscando reproduzir um modelo ideal de perfeição e utilitarismo para nos nutrir. “Pode até comer, mas precisa ser orgânico, não pode ser transgênico, não pode ter glúten ou lactose, ou frutose, ou dextrose. Já que é para comer, que seja superalimento, funcional, antioxidante, anti aging. Precisa ser limpo”. É o que temos ouvido por aí… Escolher um alimento para se nutrir está, há algum tempo, deixando de ser tarefa simples. Quando comecei a trabalhar com a nutrição comportamental com meus pacientes em consultório, eu costumava propor a eles, como exercício de atenção plena, que pensássemos em toda a cadeia produtiva, em toda a energia e recursos envolvidos para que o alimento estivesse ali, diante da gente, no prato. Acontece que as pessoas relatavam tanto desconforto ao pensar que elas não poderiam controlar se aquele alimento continha ou não agrotóxico, no desperdício, na poluição, no consumo absurdo de água e no provável trabalho exploratório dos agricultores que permeava a produção da comida, que eu me vi obrigada a suspender a prática deste exercício. A intenção inicial, que era de gerar conexão com o alimento, fazia exatamente o efeito contrário. O acesso à informação sobre alimentação, bem como os aspectos que permeiam a produção e preparo da comida, tem, paradoxalmente, nos tornado cada vez mais distantes da matriz alimentar. Em suma, quando o assunto é comer, eu costumo dizer que o conhecimento não liberta. Aprisiona. As ondas #detox e #eatclean tem produzido cada vez mais comportamentos transtornados em relação ao comer, basicamente porque nessas perspectivas não se considera o prazer, a afetividade, a socialização, o compartilhamento de sensações. Se o alimento é reduzido a medicamento, não é exagero concluirmos que nos tornamos uma sociedade doente. Se não trocamos comida, basicamente não trocamos afeto, não transmitimos a nossa cultura para as futuras gerações. Os sentimentos e histórias morrem. E corremos seriamente o risco de perder a nossa humanidade. Quando uma pessoa que relata sentir fome é percebida pelo outro como fraca (e está aí o jejum para nos testar) e a lógica vigente é a de que para ser saudável “é preciso fechar a boca”, inevitavelmente desnaturalizamos a vida. E por mais instintivo que elas sejam, as percepções de fome e saciedade ficam prejudicadas, desreguladas, desajustadas. Neste sentido, não é surpreendente que estejamos possivelmente enfrentando uma das maiores epidemias de transtornos alimentares da história da humanidade. E que os nossos corpos estejam reagindo severamente às privações de tudo (do sentir, inclusive), aumentando de peso. Nos desligarmos do excesso de estímulos nunca foi tão urgente! É preciso colocar o mundo na função “mudo” para que possamos resgatar o comer normal e simples. Tem sido a nossa prioridade número 1, enquanto profissionais da saúde, fazermos o caminho de volta com os nossos pacientes, a fim de se resgatar as preferências individuais, isentas de qualquer conhecimento utilitarista sobre nutrientes. É preciso que, nós, nutricionistas, incentivemos que as pessoas sintam fome, que percebam seus corpos. Que observem o efeito que o alimento é capaz de produzir em seus sentidos. É urgente estimularmos o sentar-se à mesa simplesmente para comer e mais nada. É preciso que busquemos a paz e não mais a guerra, a exaustão e o cansaço quando pensamos em comida! E é isso, exatamente isso que a Alimentação Consciente e Intuitiva se propõe a oferecer.

Para entrar em contato com Lydiane Bragunci ou obter mais informações, acesse:

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Email: atendimento.lydianebragunci@gmail.com

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